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Favela Oposta

... Eram 06:30 da manhã, o sol tímido de inverno ainda parecia estar dormindo descoberto... No ponto de ônibus há 45 minutos, e nada de vir o ônibus para Santos, na verdade minha vontade era de largar tudo e ficar por ali mesmo, não seria uma má idéia afinal, fui muito bem recebido e acredito que isso se traduziria num crédito de pelo menos uns dois dias de dormida e comida junto aquela família, mas meu olhar distante buscava o inesperado, a sensação de medo tinha que ser degustada a todo o momento então finquei meu pé naquela esquina e pensei que só sairia dali no ônibus pra Santos...  Enquanto atravessava o litoral sudeste ficava a imaginar tanto verde e com seria 500 anos antes, 1000 anos antes, antes do início então. Como seria o início das habitações naquela região, será que os guaranis foram os primeiros, ou veio algum aimoré tomar conta antes, será que comiam peixes?... Vejo-me hoje com uma boa camada de gordura acumulada na cintura e penso: Devia ser bem melhor quando somente comíamos para matar a fome, pois assim a vida devia funcionar realmente como0 um relógio de corda, ninguém desperdiça, ao invés de trabalhar viver, ao invés de compromissos sociais, simples convivências harmônicas e desregradas, aonde o respeito vai além da inocência e cai de boca na jaca que desmancha na beira da estrada... Já estou no Guarujá, uma cidade litorânea, pra poucos afinal é um espaço disputadíssimo entre a meia e a alta sociedade, desci ali mesmo, entre uma linda rua com Palmeiras Imperiais que certamente foram postas ali, jamais nasceriam em uma área tão urbana, mas a união das imagens fazia uma bela fotografia, e eu a me deslumbrar com pequenos prédios de três andares, com carros importados passando a todo instante, como pessoas bonitas e roupas que certamente custavam uma fortuna, eis que de repente resolvo entrar na rua oposta, na verdade o nome da rua era mesmo Oposta, achei muito interessante e desbravei-a pela calçada adentro, uns botecos me diziam que ali certamente era a área mais pobre da região, continuei caminhando, quanto mais andava mais rápido eu ia, os transeuntes de plantão me fitavam com um olhar desconfiado, eu estava com uma mochila enorme nas costas e ninguém por ali parecia querer me oferecer uma dormida, o final da tarde se anunciava com um lindo crepúsculo com o mar no horizonte que pude perceber ao olhar pra traz para confirmar se estava sendo seguido ou se era pura viagem... Sem mais sumi na rua que acabava numa favela, uns três rapazes me recepcionaram na primeira viela da “Favela Oposta” com a clássica pergunta: Preto ou branco, quer de quanto? Eu não queria de nada, pois minha grana mal dava pra comer mais uns dois dias, mas percebi que ali não se deixa pergunta sem resposta então comprei um cigarro bem barato e voltei pela Rua Oposta até o mar.


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